A 11ª avaliação da 'troika' ao programa de ajustamento português foi, outra vez, positivo, nada de novo, nem de especialmente surpreendente, num padrão de visitas que já permite perceber que são como as montanhas russas, isto é, a períodos de tensão seguem-se sempre visitas de pacificação. Foi o que sucedeu, para deixar para a última o que será o nosso programa cautelar.
A visita da 'troika',desta vez, foi rápida e incisiva, com boas notícias, e avisos para serem levados a sério, que permitem até perceber o que será, afinal, a terceira via de que todos começaram a falar. Portugal não está em condições de ter uma saída limpa, não tem o histórico, passado e recente, que suporte uma confiança dos mercados e dos governos europeus, mas ninguém quer levar aos parlamentos nacionais mais uma linha de crédito para um país do Sul. Afinal, o SPD no governo alemão não acrescentou nada, pois não, dr. António José Seguro?
A 'troika' reviu em alta o crescimento económico para 2014, para 1,2%, mais quatro décimas do que a anterior projecção, porque o consumo privado começou a dar sinais mais positivos no último trimestre de 2013, e porque o investimento dará sinais de vida, ainda assim a partir de uma base muito baixa, catastrófica mesmo. O desemprego vai descer, mas ainda assim acima dos 15%. Passos e Portas agradecem a ajuda para as europeias, mas sabem que o pior está para vir. Quando? Quando a 12ª avaliação começar, e a 'troika' exigir um Programa Cautelar apresentado pelo próprio Governo, sob a forma de Documento de Estratégia Orçamental. As instituições europeias, os técnicos, sabem que uma rede de segurança seria a melhor das soluções para Portugal, como teria sido, também, para a Irlanda, mas não têm a força para a impor a Alemanha. O que farão, então? Antes de fecharem o programa e de libertarem a última tranche da ajuda externa, isto é, antes das europeias, exigem que o Governo mostre o que vai fazer em 2015 e 2016. Não chegarão promessas de boas intenções, no final de Abril saberemos o que o Governo será forçado a fazer. É um programa cautelar sem acordo assinado com a Europa, mas servirá para mostrar aos mercados que, por aqui, continuará a haver o ajustamento, especialmente no Estado, que continuou em 2014 a ser feito sem estrutura, e com muito voluntarismo, à custa de funcionários públicos e pensionistas. Em 2015, a 'troika' exige, e bem, reformas estruturais no Estado, leia-se na Função Pública e nas pensões. Talvez valha a pena olhar outra vez para o guião de Paulo Portas, que vai passar à prática mais cedo do que se suponha, desde logo o seu próprio autor.
Passos, mais do que Portas, preferia o cautelar, também por isto. Sabe que o caminho está longe de estar feito e, além disso, à necessidade de vencer eleições, que está presente apesar do 'que se lixem as eleições', Passos sabe que não conseguirá controlar o partido e muito menos o parceiro de coligação se não houver controlo externo. Mas também já sabe, a partir desta 11ª avaliação, que vai ter uma saída limpa. Os irlandeses inventaram, na 25ª hora, a vitória sobre a 'troika' e a saída limpa. Agora, Passos vai ter de desenhar uma narrativa para explicar como é que nos dão uma saída limpa e, ao mesmo tempo, mais austeridade.