Cavaco Silva deixou cair a estratégia do politicamente correcto que seguiu no Verão de 2013 quando propôs um consenso político entre o Governo e o PS e passou agora para uma nova etapa, de responsabilização directa dos líderes partidários pelo que vier a suceder no pós-'troika' se não houver acordo. Dito de outra forma, o Presidente quer um programa cautelar, mas quer mais ainda um novo Bloco Central.
Em 2013, depois da demissão irrevogável de Paulo Portas, Cavaco Silva surpreendeu o País ao convidar os três partidos do arco do Governo a discutirem um acordo de médio prazo, coisa bondosa, e necessária, mas que só serviu para prolongar uma crise política, e o aumento dos juros da dívida pública. Ninguém queria um acordo, mas era Seguro quem mais tinha a ganhar e hoje deve estar bem arrependido por ter cedido aos soaristas e socráticos. Porquê? Porque estaria hoje a preparar-se para as legislativas antecipadas.
Cavaco Silva é claro no que tem vindo a dizer, e foi ainda mais ontem, numa leitura do próprio sobre o alcance do que escreveu no prefácio dos Roteiros. O programa Cautelar é a saída preferida, por várias razões, mas por uma em especial, que não abona em favor dos políticos. Portugal é um País que não se governa e que talvez se deixe governar se houver um acordo ou, em alternativa, uma rede de segurança, e de vigilância, externa. Porque a seguir ao dia 17 de Maio, no dia 18, nada vai mudar, as exigências vão manter-se, a austeridade também.
É claro que Cavaco sabe que não há possibilidade de um entendimento político até às eleições europeias, seria o suicídio político de António José Seguro, mas se as palavras do Presidente são para levar a sério, o cenário de eleições antecipadas voltará a estar sobre a mesa a partir do dia 26 de Maio. Cavaco só pode ter esse caminho em cima da sua mesa, a alternativa seria apenas a defesa do seu próprio interesse no meio de um processo de ajustamento que, como o próprio reconhece, ainda tem muitos riscos.
A jogada de Cavaco é de alto risco, até para um Presidente que sai em Janeiro de 2016, e as dúvidas sobre a sua força política para impôr um acordo são, no mínimo, legítimas, mas esta iniciativa promete.
Os dados estão, por isso, lançados, o Presidente quer um acordo político ou prepara-se para antecipar o calendário, e já tem, até, o argumento de que as eleições antecipadas não são um risco para a estabilidade financeira do País, porque, nesse momento, Portugal já terá terminado o programa de ajustamento com a 'troika'. Nesse momento, vai relevar outra dimensão política, a da clarificação do impasse que poderá resultar de uma vitória de Seguro nas europeias.