Pedro Passos Coelho chegou a Berlim com uma mão cheia de nada para um encontro com Angela Merkel, um desacordo com António José Seguro que obrigará o Governo a decidir, sozinho, o modelo de saída do programa de ajustamento com a 'troika'. E o compromisso fica adiado, até às próximas eleições.
O primeiro-ministro preparou a semana ao milímetro, enviou uma carta-convite ao secretário-geral do PS na sexta para um encontro em São Bento na segunda-feira. Para quê? Para abrir formalmente o processo de negociação com a chanceler alemã. Passos deveria ter aberto este processo muito mais cedo, aliás, nunca o deveria ter fechado, e deu o pretexto que António José Seguro queria para não assinar nada em cima de eleições.
O líder do PS colocou-se na posição fácil, identificou uma divergência insanável, aproveitou para dizer que não, não se sabe exactamente o que estaria disposto a viabilizar ou, dito de outra forma, sabe-se que o Governo vai anunciar mais um conjunto de medidas no Documento de Estratégia Orçamental (DEO) que valerão cerca de dois mil milhões de euros de cortes para os anos seguintes. Não há solução fácil, afinal, qual é a alternativa de António José Seguro? Crescimento, todos queremos, mas não chega para garantir o que vem a seguir, e não será um 1640. Vai ter que dizer mais.
Angela Merkel, essa, disse o que se esperava, disse aos mercados que apoiará Portugal com ou sem Programa Cautelar. José Sócrates também tinha a mesma garantia dias antes de ser chumbado o PEC IV, e foi o que se viu. E até conseguiu que Merkel desse um raspanete a Passos Coelho numa reunião do PPE. A história, entretanto, é conhecida.
A saída de Portugal será limpa, mas o problema do Governo é saber se garante uma saída credível. Sem um compromisso mínimo com o PS, será uma saída menos credível, e sem Programa Cautelar, será mesmo uma saída frágil, exposta a todos os ventos e tempestades. Mas se resistir aos próximos seis meses, António José Seguro corre o risco de passar à história.
PS: Portugal falhou ontem a operação de recompra de dívida pública, mas o resultado final foi, afinal, uma boa notícia para o processo de saída do programa de ajustamento, foi daquelas operações que João Moreira Rato falhou sem falhar. Provavelmente, não deveria ter dado a indicação ao mercado de que o instituto que gere a dívida pública estaria disponível para comprar entre 500 e mil milhões de euros de Obrigações do Tesouro, depois de já terem realizado uma operação semelhante ainda há semanas, com a mesma linha de emissão. Recompraram apenas 50 milhões, pouparam algumas centenas de milhar em juros. A resposta do mercado, essa, foi clara: os investidores já incorporaram que as 'yields' de Portugal vão continuar a cair no quadro da saída do programa da 'troika' e, por isso, não estiveram disponíveis para vender ao preço a que o IGCP queria recomprar. A rentabilidade é suficientemente atractiva, e o risco mínimo. E querem ficar expostos a Portugal.